Vacina no tratamento do câncer | Veja Saúde
O uso das vacinas para combater a Covid-19 tem provocado um debate intenso e, às vezes, desnecessário. Há séculos os imunizantes são empregados para reduzir substancialmente a incidência de doenças como poliomielite, sarampo, tétano, entre outras. O Brasil desenvolveu um programa de vacinação reconhecido mundialmente capaz de atender todas as camadas da população e que representa o melhor custo-benefício em saúde pública.
Desde os chineses no século 10, passando pelo inglês Edward Jenner (1749-1823) e o francês Louis Pasteur (1822-1895), a tecnologia tem permitido desenvolver vacinas cada vez mais seguras e eficientes com a introdução de substâncias biológicas no organismo que têm o objetivo de ativar o sistema imunológico. Com isso, nosso corpo aprende a reconhecer e combater melhor vírus e bactérias. São raros os casos de contraindicação e riscos de enfermidades.
Na oncologia, as vacinas têm protegido a população de infecções por vírus que podem causar câncer. É o caso de algumas cepas do papiloma vírus humano (HPV), associadas ao câncer de colo do útero, ânus, boca, entre outros. Contra a hepatite B, outra vacina contribui para a prevenção do câncer de fígado.
O desenvolvimento tecnológico já permite vislumbrar um futuro muito breve em que usaremos com mais frequência vacinas para também TRATAR o câncer. As recentes pesquisas utilizando o RNA mensageiro nas vacinas contra a Covid-19 são um dos caminhos possíveis para aplicação no tratamento oncológico. Um dos diferenciais desse método é facilitar a criação de vacinas sob medida para o paciente.
O papel dessas vacinas é fazer com que o sistema imunológico ataque as células tumorais do corpo. A sua produção começa com uma biópsia do tumor do paciente, que terá seu genoma sequenciado. Na próxima etapa, é desenvolvida uma molécula de RNA para codificar as proteínas que respondem pelas mutações das células normais, que posteriormente se tornam cancerosas.
As vacinas oncológicas podem ser, ainda, combinadas com outras substâncias ou células adjuvantes, que ajudam a estimular a resposta imunológica. Em uma das linhas de pesquisa, por exemplo, o procedimento pode demorar cerca de três meses a partir da biópsia. Os pesquisadores acreditam que as células com memórias especiais presentes no sistema imunológico ajudem a fazer com que a vacina continue respondendo por muito tempo após sua administração.
Uma das primeiras vacinas já disponibilizada no mercado é indicada para os pacientes com câncer de próstata avançado que não responde à hormonioterapia. Outras já vêm sendo testadas para tratamento do câncer de mama, entre outros diagnósticos oncológicos.
O avanço científico na busca da cura para o câncer traz ainda outros tratamentos que podem alcançar significativas respostas positivas. Para cada indivíduo, há uma indicação específica e o oncologista poderá orientar o melhor caminho para o paciente se recuperar.
* Ramon Andrade de Mello é oncologista, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Uninove e da Escola de Medicina da Universidade do Algarve, em Portugal