Avanço médico permite recuperar brasileiros com artrose e dor no quadril | Veja Saúde
Pacientes com artrose do quadril que, no passado, estavam condenados a passar o resto da vida com dores excruciantes e usando bengala ou andador estão se surpreendendo ao começar a caminhar ainda no hospital, em muitos casos apenas algumas horas após a cirurgia.
Pessoas que sofreram por anos a fio têm dificuldade em acreditar na possibilidade de voltar a ter uma boa qualidade de vida após receber uma prótese de quadril, implante que pode ficar no corpo funcionando bem por muitíssimo tempo. Mas, ainda bem, essa perspectiva existe!
Os resultados dessa revolução silenciosa nos últimos anos foram possíveis devido à incrível evolução na medicina, ao incorporar novos materiais e técnicas cirúrgicas minimamente invasivas.
Infelizmente, seus benefícios ainda não foram tão bem mensurados. Para isso, é preciso calcular o que significa, do ponto de vista econômico e social, devolver para o mercado uma infinidade de brasileiros que padecem com artrose e dor no quadril e ficam incapacitados de trabalhar.
Além disso, cabe destacar que não são poucos os pacientes que não são idosos, mas jovens que, por predisposição genética, problemas devido à prática esportiva ou em decorrência de certas doenças, sofrem da artrose do quadril, que se caracteriza pelo desgaste da cartilagem da cabeça do fêmur e do acetábulo, ou seja, a articulação dessa estrutura.
Esse é um quadro que provoca uma dor que tende a piorar com o tempo e restringir progressivamente a mobilidade. Em alguns casos, genes já identificados predispõem a família inteira a essa doença.
O tratamento comumente se dá por meio de uma cirurgia e a colocação de próteses. É a artroplastia total do quadril (ATQ), realizada com próteses feitas de material de baixa fricção e implantadas com ou sem cimento acrílico.
+ LEIA TAMBÉM: Como é feita uma cirurgia para instalar prótese no quadril?
Progressos recentes promoveram uma redução drástica no risco de infecção ligado ao procedimento e sua relevância fica nítida quando vemos que o periódico médico The Lancet saudou a ATQ como “a operação do século”.
Tal evolução se reflete também no custo do procedimento. A possibilidade de colocar o paciente andando rapidamente e diminuir ao mínimo o tempo de hospitalização minimiza a incidência de complicações, tornando a operação mais acessível e menos onerosa para os cofres públicos, quando custeada pelo SUS, e ao sistema de saúde suplementar.
Embora os avanços tecnológicos sejam constantes e continuem sendo registrados, os resultados atuais já abrem a possibilidade real de jovens atletas vítimas da osteartrose do quadril voltarem a competir. Bom exemplo é o caso de Álvaro Afonso de Miranda Neto, o Doda, que, após integrar a equipe olímpica brasileira de equitação por cinco vezes, teve que desistir da Olimpíada de Tóquio por causa do problema.
O depoimento que postou na internet certamente levará muitos atletas (e não atletas) a buscarem a cirurgia reparadora. Ele escreveu: “Finalmente fiz a tão sonhada cirurgia do quadril direito. Vinha convivendo há anos com muita dor e falta de mobilidade que impactava não somente no hipismo mas também na minha qualidade de vida para tarefas muitas vezes simples. Já estou me dedicando bastante no trabalho de fisioterapia e não tenho mais dor”.
Doda provavelmente não será o único atleta que, graças a uma ATQ, estará presente na Olimpíada de Paris, no ano que vem.
* Giancarlo Cavalli Polesello é ortopedista, professor da Santa Casa de São Paulo, médico do Núcleo de Quadril do Hospital Sírio-Libanês e ex-presidente da Sociedade Brasileira do Quadril (2020-2021)