5 livros para refletir sobre saúde mental e se introduzir na Cultura Psi | Veja Saúde

O cuidado com a saúde mental nunca foi tão urgente como nos últimos anos. No entanto, ainda existem muitos tabus e preconceitos, além de muito desconhecimento sobre o tema.

É por isso que insisto tanto no fortalecimento de uma Cultura Psi, ou seja, uma cultura em que os assuntos do nosso mundo interno são expostos sem melindre, podendo ser discutidos em nossa sociedade com naturalidade e recebendo todo o respeito e acolhimento que o nosso bem-estar psíquico merece.

Nesse sentido, não é incomum que pessoas interessadas me procurem pedindo indicações de leitura sobre o tema. Então resolvi fazer uma seleção de cinco livros de introdução à Cultura Psi.

São obras que certamente agradarão tanto leitores familiarizados com esse mundo quanto aqueles que não possuem formação específica na área, mas se interessam em desvendar os segredos da mente humana. Eis a lista:

1. Manuscrito inédito de 1931, de Sigmund Freud

Uma joia encontrada por acaso, em um canto empoeirado de uma livraria italiana, pelo psicanalista brasileiro Alexandre Socha. Esse texto do pai da Psicanálise, até então inédito, foi publicado em 2017 pela editora brasileira Blucher, em uma edição bilingue.

Trata-se de um dos melhores livros introdutórios à psicanálise, escrito em linguagem acessível pelo próprio Freud que, assim como o nome desta coluna, esforçou-se por utilizar uma linguagem simplificada sem ser simplória.

Seu objetivo era alcançar o público leigo americano e comunicar alguns conceitos fundamentais, ainda que sofisticados, da psicanálise. Leitura aprazível, rápida e profunda, que conserva a conhecida genialidade da escrita freudiana.

Manuscrito Inédito de 1931 (Blucher)

capa do livro

2. A incrível história de Von Meduna e a filha do Sol do Equador, de Edmar Oliveira

A história da psiquiatria contada a partir do estado do Piauí, em um texto estruturado como um romance. Publicado em 2011, torna-se urgente hoje por várias razões.

Porque desmistifica a loucura e apresenta seu lado humano; porque ensina a história da psiquiatria e explica como essa história fabricou estigmas e preconceitos; porque evidencia a importância da Reforma Psiquiátrica brasileira.

Mas, sobretudo, porque serve de alerta contra a ameaça do retorno da lógica manicomial – iatrogênica, desumana e excludente – que reaparece hoje em dia travestida na inocente alcunha de comunidade terapêutica.

A Incrível História de von Meduna e a Filha do Sol do Equador (Oficina da Palavra)

capa livro

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3. A burrice do demônio, de Hélio Pellegrino

Ainda que seja uma coletânea bem circunscrita historicamente, reunindo 59 artigos escritos entre 1968 e 1988, os textos não perdem a sua atualidade.

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Ao ler o livro, vemos que a descoberta freudiana de que o inconsciente tende a atualizar o passado no presente também é verdade coletivamente. Fica evidente que o disparatado flerte com o autoritarismo que ameaça a nossa democracia hoje em dia repete um antigo vício brasileiro.

A obra é, assim, um convite à reflexão crítica da sociedade a partir da capacidade do “poeta da psicanálise” de revelar com precisão aspectos do funcionamento profundo do nosso psiquismo através de imagens e alegorias, refletindo sobre suas manifestações nas relações cotidianas, na arte, na cultura e na política.

A Burrice do Demônio (Rocco)

capa do livro

4. O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, de Oliver Sacks

Conhecido como um “cientista romântico”, Oliver Sacks, falecido em 2015, oferece uma aproximação dos fenômenos neurológicos através de contos clínicos curtos e envolventes.

Os textos transitam entre as histórias pessoais de seus pacientes e certos aspectos incomuns de comportamento, oferecendo ricas elaborações e explicações acerca das patologias cerebrais.

Seus livros explicam, de maneiro instigante, a complexidade do funcionamento de nossa máquina encefálica por meio de uma linguagem clara e simples, possibilitando uma experiência de leitura leve e fluida.

O Homem que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu (Companhia das Letras)

capa livro

5. A loucura do trabalho, de Christophe Dejours

Esta indicação é voltada especialmente aos profissionais que atuam em empresas e precisam administrar equipes, e a quem atua nos departamentos de Recursos Humanos.

O livro mostra que o mundo do trabalho nem sempre foi estruturado como é hoje e, evidentemente, não existem razões para que se mantenha como está.

Fruto de uma extensiva pesquisa, revela as estratégias defensivas inconscientes dos trabalhadores contra os sofrimentos psíquicos que o trabalho produz, assim como a importância de olhar para a ansiedade, a exploração do sofrimento e do medo do trabalhador.

É possível, ainda, observar como a atividade laboral pode ser organizadora do nosso mundo interno e oferecer perspectivas de crescimento pessoal, mas para isso é preciso adaptar o trabalho ao ser humano e não o ser humano ao trabalho.

A Loucura do Trabalho: Estudo de Psicopatologia do Trabalho (Cortez)

CAPA LIVRO

Espero que você possa aproveitar e desfrutar dessas boas leituras. E, se quiser me contar o que achou, escreva para francisco@relacoessimplificadas.com.br.

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