Entenda as novas recomendações da OMS sobre as vacinas da Covid-19 | Veja Saúde

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou novas orientações sobre as vacinas da Covid-19. A entidade afirma que, na fase atual da pandemia, não é necessário que doses adicionais de reforço (quarta dose em diante) sejam aplicadas rotineiramente à população em geral. 

A OMS segue recomendando os reforços para grupos em alto risco de ter formas graves da doença.

São os idosos, adultos com condições que afetam a imunidade, crianças com 6 meses ou menos e profissionais de saúde que atuam na linha de frente do atendimento. 

“A atualização levou em conta que a maioria da população já está vacinada ou foi infectada, ou os dois juntos. Mas a revisão re-enfatiza a importância de seguir vacinando aqueles em maior risco”, declarou a médica Hanna Nohyek, diretora do SAGE, grupo da OMS focado em vacinas. 

Vale destacar que a OMS continua recomendando as duas doses do esquema de vacinação e a primeira dose de reforço para todos. 

“E que a mudança nada tem a ver com a segurança da vacina, mas, sim, com o custo-benefício de doses adicionais de reforço para a população”, afirma o infectologista Leonardo Weissmann, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

“Vacinas não são mais necessárias”? Não é bem assim

A afirmação foi deturpada em redes de desinformação antivacina, dando a ideia de que não era necessário ter usado vacinas desde o início. Mas a OMS não diz isso em nenhum momento. O texto afirma: 

“A prioridade do SAGE segue sendo proteger as populações em maior risco de quadros graves ou morte por Covid, e o foco também é manter a resiliência dos sistemas de saúde”. 

Apesar da polêmica e da distorção criada pelos desinformadores, a mudança não quer dizer que as vacinas não funcionam. Graças a elas superamos o pior da pandemia, então é esperado que essas recomendações mudem. 

“É natural que uma hora a gente pare de vacinar todo mundo, como também paramos de usar máscaras a todo momento, voltamos a nos aglomerar…”, comenta o infectologista Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), que faz parte do SAGE. 

+ Leia tambémOs números não mentem: entenda a matemática das vacinas

Kfouri explica que a combinação da vacinação em massa e de infecções naturais, que ocorreram aos montes na era da variante Ômicron, gerou um status de imunidade coletiva na maioria da população. Tanto que praticamente não vemos mais casos graves de Covid, salvo naqueles indivíduos mais vulneráveis. 

“A lógica é ir adequando as recomendações de acordo com a situação epidemiológica de cada local”, explica Kfouri. 

Essa decisão é tomada pensando no direcionamento de recursos onde eles são realmente necessários. As evidências confirmam que três doses da vacina são o suficiente para proteger crianças e adultos saudáveis. E não mostram benefícios adicionais dos reforços. Daí não vale a pena investir nisso do ponto de vista de saúde pública. 

“Porém, deve-se sempre enfatizar a necessidade do esquema básico de vacinação com três doses para todos”, afirma Weissmann.

Já para os idosos e indivíduos imunocomprometidos é diferente, pois eles respondem pior às vacinas. As gestantes também estão em maior risco de ter formas graves. Além disso, a imunização delas garante anticorpos para os bebês, que não podem ser vacinados antes dos 6 meses.  

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Quem deve tomar os reforços agora?  

A nova recomendação da OMS divide os grupos de acordo com a prioridade para receber as vacinas. Ficou assim: 

  • Alta prioridade: Idosos, adultos e crianças com comorbidades (por exemplo, diabetes e doenças cardíacas). Devem tomar um reforço adicional a cada seis ou 12 meses depois da última dose.
  • Média prioridade: Adultos entre 17 e 60 anos, crianças e adolescentes com o sistema imunológico enfraquecido. Para eles, esquema básico de três doses, sem a necessidade de reforço.
  • Baixa prioridade: Crianças e adolescentes saudáveis. Cada país decide seu calendário de acordo com o contexto local específico.

Vale dizer que o documento é um guia para os gestores públicos no mundo, mas cada país adapta as orientações à sua realidade. No Brasil, já temos uma campanha em andamento, que até o momento não sofreu alterações com a nova diretriz (clique para ver como está o calendário).

E a vacinação das crianças? 

Esse é outro ponto que gerou confusão e desinformação. A OMS considera crianças e adolescentes como um grupo de baixo risco para a Covid grave. Portanto, elas não são prioridade para receber as vacinas na visão da entidade. 

Há que se fazer, contudo, algumas ponderações. Primeiro, isso não quer dizer que as vacinas não são boas para elas. A OMS diz o seguinte sobre isso: 

O esquema primário e os reforços são seguros e efetivos em crianças e adolescentes. Entretanto, considerando a baixa carga da doença nesse público, o SAGE pede que os países considerem a vacinação desse público com base em fatores contextuais”. 

Isso nos leva ao segundo ponto. No Brasil, a carga da Covid nas crianças é maior do que a de todas as outras doenças imunopreveníveis, como sarampo e meningite, somadas.

“Em 2022 tivemos uma morte por Covid a cada dois dias em crianças menores de 5 anos, e 40% delas eram saudáveis”, lamenta Kfouri. 

+ Leia também: Covid: como funcionam as vacinas de RNA que serão usadas nas crianças

O infectologista destaca que o risco de uma criança brasileira morrer de Covid chega a ser 15 vezes maior do que o perigo que uma criança corre no Reino Unido.

Isso acontece principalmente por conta das dificuldades no acesso aos serviços de saúde e pela desigualdade social. 

Portanto, é normal que um país rico decida não vacinar as crianças, por exemplo, enquanto aqui isso continue fazendo sentido. “Nos países nórdicos não se vacina contra o rotavírus porque ninguém morre de diarreia, mas aqui esse imunizante já salvou centenas de milhares de vidas”, pontua Kfouri.

Para crianças e adolescentes segue a recomendação de tomar três doses, sem necessidade de reforço. O ponto é que as coberturas estão muito baixas entre eles, em especial nos menores de 5 anos: 25% na primeira dose e 2,5% na segunda

A vacinação nessa faixa etária foi uma das mais atacadas pelas campanhas de desinformação antivacina. Por conta disso, hoje, os pequenos são o grupo mais vulnerável à Covid grave no país, perdendo apenas para os idosos. 

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