Como diminuir o perigo de transmissão da Covid-19 ao sair do isolamento | Veja Saúde
Já faz mais de quatro meses que recebemos a orientação de manter o isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus. E, mesmo com o número de infectados e mortos em alta, parte dos serviços que não são considerados essenciais (parques, restaurantes, salões de beleza, academias e comércio em geral) voltou a funcionar em diversas cidades brasileiras. Pois bem: será que existe alguma forma de, atualmente, frequentar esses espaços (ou alguns deles) com segurança?
Para discutir essa questão, conversamos com o infectologista Marcelo Otsuka, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), e com o epidemiologista Guilherme Werneck, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
“Para falar bem a verdade, não é adequado ir a nenhum ambiente diferente nesse momento. Ainda é preferível não sair”, adianta Otsuka.
Mas a realidade é que, por causa do cansaço mental somado à falta de perspectiva de melhora da situação no país, uma parcela até de quem seguiu o isolamento social à risca começou a furar a quarentena. A seguir, debatemos se seria possível, então, minimizar os riscos associados a esse comportamento de acordo com locais específicos.
Antes de apresentar orientações para cada espaço, cabe ressaltar: o distanciamento e o uso de máscara são mandatórios em todos os exemplos descritos abaixo.
Parques
Os dois profissionais apontam que, por se tratar de um ambiente externo, há menor possibilidade de contaminação. “Não existe situação de risco zero, mas os parques representam menos perigo porque são áreas abertas e ventiladas”, comenta Guilherme Werneck.
Claro, não dá para se descuidar. É crucial evitar contato com as outras pessoas que estiverem por lá, não ir em horários de pico e continuar com a máscara mesmo quando o objetivo for praticar exercício físico.
“Não é necessário fazer um treino puxado. Opte por uma atividade leve ou moderada para que a máscara não interfira na respiração. Isso já é suficiente para manter o condicionamento físico sem prejudicar os outros”, sugere Marcelo Otsuka.
Salões de beleza e barbearias
Após meses em confinamento, tem um monte de gente ansiosa para cortar o cabelo. Segundo Werneck, ir atrás desse e de outros serviços realizados em salões representa um risco médio, já que falamos de locais fechados. “É fundamental garantir que eles estejam funcionando com pouca gente e horário marcado. Prefira salões mais amplos”, orienta.
Otsuka recomenda checar se há espaço entre as cadeiras e se elas são higienizadas antes e depois dos procedimentos. Os instrumentos utilizados também exigem uma bela limpeza. “Sabemos que é complicado cortar o cabelo de máscara, mas todo mundo tem que usar: o cliente e o cabeleireiro”, reforça.
Se o procedimento ficar muito complicado por causa do acessório, o infectologista sugere que você segure a máscara na frente do rosto ao invés de retirá-la totalmente. E não deixe de higienizar as mãos antes e depois do corte.
A melhor pedida é comparecer a um estabelecimento que fique próximo de onde você mora. “Não adianta tomar todos os cuidados dentro do salão e se deslocar até lá em um ônibus lotado”, raciocina Otsuka, da SBI.
Vale lembrar que alguns cabeleireiros estão atendendo na casa dos clientes. “Isso com certeza minimiza o risco, porque ali você mesmo faz a limpeza. Já no salão passam muitas pessoas que você não conhece. O controle é menor”, reflete o vice-presidente da Abrasco.
Ao escolher o corte caseiro, lembre-se de que a regra da máscara continua valendo.
Consultas médicas
Desde o início da pandemia, profissionais da saúde recomendaram que consultas de rotina fossem adiadas. O ideal era visitar o médico apenas quando isso se mostrasse realmente necessário — tudo para não correr o perigo de se infectar.
“Porém, pacientes com doenças crônicas ou graves, como câncer, diabetes, hipertensão e problemas cardíacos, não podem abdicar do acompanhamento”, informa Otsuka.
“Aqueles que precisam realizar exames periódicos de prevenção de câncer, por exemplo, também não deveriam adiar os procedimentos”, complementa Werneck.
O epidemiologista da Abrasco aconselha que, antes de tomar qualquer decisão de pausar o tratamento ou prorrogar uma avaliação, é imprescindível conversar com o médico que te acompanha — isso pode ser feito pelo celular ou computador.
Ao marcar um atendimento presencial, basta tomar os cuidados básicos: máscara, distanciamento e limpeza das mãos.
“O ideal é chegar na hora exata da consulta e, assim, não ficar na sala de espera”, ensina Werneck.
Restaurantes
Apesar de eles já estarem autorizados a reabrir em parte das cidades brasileiras, o epidemiologista alerta que frequentá-los faz parte das situações de alto risco.
“O controle é menor. Tem muita gente circulando e não dá para saber se elas estão cumprindo as medidas de prevenção corretamente fora dali. Eu diria que fazer refeições em um restaurante é um luxo que deve ser evitado”, frisa Werneck.
Se decidir ir mesmo assim — no horário de almoço do trabalho, por exemplo —, é bom verificar se as mesas estão espaçadas e higienizadas. Retire a máscara apenas na hora de comer e fique no local o mínimo de tempo possível.
E passe longe dos buffets. A opção mais segura agora são os estabelecimentos que oferecem pratos que constam no cardápio.
“Não recomendo sentar do lado de fora porque gera uma falsa sensação de segurança. A área aberta normalmente fica na calçada, com pessoas passando perto toda hora”, acrescenta Otsuka.
Bares, academias, centros religiosos, lojas…
Estão aí outros estabelecimentos que também estão abrindo as portas. Entretanto, eles representam uma possibilidade maior de contágio. Isso por dois motivos principais: são fechados e naturalmente geram aglomeração.
“A academia, por exemplo, está em um nível de risco equivalente ao de um restaurante. Eu diria que não é um lugar para frequentar hoje”, enfatiza Werneck.
Ele lembra que é possível se exercitar de outras formas. “Nem sempre temos escolha, mas, nesse caso, a gente tem. E se der para evitar, evite”, avalia.
Certos estúdios que oferecem atividades como pilates ou ioga até conseguem remanejar o esquema de funcionamento, ofertando aulas individuais.
“É um jeito de diminuir a probabilidade de transmissão. Porém, não vamos nos esquecer de que os indivíduos não estão isolados no trajeto. Ninguém é teletransportado de casa até à sala do pilates”, analisa o epidemiologista. O mesmo vale para bares e shoppings.
“Se você for a qualquer um desses lugares, certifique-se de que estão seguindo os protocolos de segurança”, reitera Otsuka.
Dá para visitar a família?
Ficar longe de quem nós amamos é, provavelmente, uma das coisas mais penosas do isolamento social. “É muito difícil o que estamos vivendo, principalmente para os idosos”, reconhece Werneck.
O epidemiologista acredita que é possível fazer uma ou outra visita aos nossos familiares, desde que tomadas as devidas precauções. Veja: não é para reunir a família inteira para um almoço de domingo.
“Quando for, use máscara, mantenha distância e não tenha contato físico”, aconselha o profissional da Abrasco. Ou seja, nada de abraço, beijo e aperto de mão. A visita deve ser breve. O melhor é que não envolva almoço ou jantar.
Para quem tem quintal, uma dica é levar cadeiras para esse ambiente – mas deixe-as afastadas. “Tem que usar um pouco da criatividade”, brinca o médico da Abrasco.
Caso a saudade aperte, lembre-se de que a distância física dos nossos entes queridos é, no fim das contas, uma verdadeira prova de amor.