Os dados vão mudar o futuro da medicina, mas ainda há quem resista a eles | Veja Saúde

Em uma consulta, o paciente responde a um questionário, escrito ou oral, relatando seu histórico de doenças e os sintomas que está sentindo. Com essas informações, o médico solicita diversos exames, ou seja, busca mais informações sobre o problema e, de posse delas, consegue chegar ao diagnóstico e ao prognóstico. Essa é a rotina comum a todos os hospitais e consultórios e que se repete a cada atendimento.

E se todos esses dados pudessem ser combinados e tratados de forma automática, oferecendo novas possibilidades de análise e uma visão mais completa para determinar orientações e políticas de prevenção e bem-estar? É justamente esse questionamento que está instigando os principais players de medicina do país.

A tecnologia avançou significativamente nos últimos anos e as soluções de coleta, análise e tratamento de grandes volumes de informações finalmente chegaram ao setor da saúde. Hoje, não faltam opções para médicos e cientistas que desejam combinar diferentes informações para desenvolver os melhores serviços e atendimentos à população.

O mercado global de inteligência artificial, por exemplo, deve saltar de 4,9 bilhões de dólares em 2020 para mais de 45 bilhões em 2026, segundo estimativa da consultoria MarketsandMarkets.

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O problema é que, por mais que a tecnologia esteja disponível, há uma barreira cultural que precisa ser ultrapassada. Os profissionais de medicina não sabem trabalhar com os dados existentes (e em número cada vez maior) porque não precisaram lidar com eles ao longo de sua formação. Ainda hoje a maioria das escolas de medicina não ensina a importância dos dados ou do big data em sala de aula. Como as fontes de informação eram reduzidas e o acesso era limitado, os profissionais contavam com o conhecimento adquirido na universidade e, principalmente, com a destreza de fazer o diagnóstico correto a partir dos sintomas descritos.

Mas o mundo mudou muito nos últimos anos – e o setor de saúde acompanhou as transformações. Atualmente, o médico precisa acessar diferentes conteúdos técnicos para se manter atualizado, atender um número grande de pacientes, com diferentes características e particularidades e, principalmente, antever sintomas e doenças para garantir mais qualidade de vida em vez de só prescrever tratamentos.

Como se vê, os dados estão cada vez mais presentes na rotina médica e em um volume crescente e gigantesco. Não dá mais para ignorar e confiar apenas nos conhecimentos e instintos individuais.

Somente com o cruzamento de todas essas informações é possível ter uma visão mais clara da situação e identificar as melhores soluções. A pandemia de Covid-19 evidenciou essa necessidade. Sem a análise acurada dos dados sobre a doença, é praticamente impossível adotar medidas eficazes de contenção e prevenção.

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A Nova Zelândia e a Coreia do Sul, por exemplo, dois dos países com melhor desempenho no combate ao novo coronavírus, conseguiram combinar dados digitais demográficos com informações clínicas para prever as regiões que poderiam ter uma explosão de casos por conta do deslocamento das pessoas infectadas. E agiram a partir daí.

Utilizar com critério essa massa de informações disponíveis já é uma realidade no dia a dia de profissionais e instituições de saúde. Para o médico, o aprendizado sobre os dados vem se somar ao conhecimento sobre sinais e sintomas, diagnósticos e particularidades clínicas. É a partir do cruzamento desses campos que consultórios, clínicas e hospitais podem ampliar seu poder de análise e identificar o que deve ser feito e oferecido para melhorar a vida dos pacientes.

É uma tendência da qual não adianta fugir. Saber se adaptar a ela é o que vai permitir que médicos e hospitais possam prestar o melhor atendimento à população.

* Daniel Christiano é físico médico e líder da vertical de saúde da Semantix

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