A evolução e os desafios no tratamento do câncer de mama metastático | Veja Saúde
Em outubro celebramos o mês de conscientização sobre o câncer de mama, o tipo da doença mais comum entre mulheres no mundo, excluindo o câncer de pele não melanoma. Só no Brasil são 66 280 novos casos esperados para cada ano no triênio de 2020 a 2022. Isso significa uma proporção de mais de 61 casos por 100 mil mulheres nesse período. Além de ampliar o diagnóstico precoce e a prevenção, dois fatores importantíssimos para reduzir a mortalidade pela doença, é fundamental falar também do câncer de mama metastático, quando a doença já se espalhou.
Um estudo analisou informações de quatro diferentes bases de dados de registro da enfermidade no país entre 2008 e 2018 e estimou que atualmente tenhamos 44 642 brasileiras vivendo com câncer de mama metastático — são 41 casos a cada 100 mil mulheres. Entre essas pacientes, 58% foram diagnosticadas com o subtipo mais comum da doença (o RH+/HER2-).
Apesar de existirem diversas opções terapêuticas contra o câncer de mama metastático, como a terapia hormonal, muitas mulheres apresentam resistência e progressão da doença. Quando isso acontece, aquelas com a doença avançada do tipo RH+/HER2- costumam ser submetidas à quimioterapia — tratamento que, nessas circunstâncias, demonstra piores taxas de resposta e tolerabilidade. O fato é que hoje ainda existem muitas necessidades não atendidas para mulheres que enfrentam o câncer de mama metastático.
Mas temos boas notícias, com novos tratamentos capazes de ajudá-las a viver mais e melhor. Para nós, médicos, ter mais opções terapêuticas é essencial para que possamos escolher o que é mais adequado para cada paciente. Um exemplo dessa tendência é o medicamento abemaciclibe, pertencente à classe dos inibidores de ciclina e lançado no Brasil pela pela farmacêutica Eli Lilly em 2019. Ele é indicado para o tratamento de câncer de mama avançado ou metastático RH+HER2 -, em combinação com a terapia hormonal como tratamento inicial, em combinação com fulvestranto após terapia hormonal inicial ou em monoterapia após progressão da doença depois do uso de terapia endócrina e um ou dois regimes quimioterápicos anteriores para a doença metastática.
No estudo da combinação com terapia hormonal inicial, por exemplo, essa estratégia mostrou redução de 46% no risco relativo de progressão da doença ou morte no comparativo ao grupo controle (sem esse tratamento), com resposta de sucesso de 48% entre as pacientes testadas e uma sobrevida livre de progressão da doença de mais de dois anos. Essa nova classe de medicamentos é a mais recente ferramenta a aprimorar o tratamento da enfermidade em nosso país. E, agora, nossa esperança é que tratamentos como esse possam estar disponíveis a mais e mais brasileiras.
Neste momento, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) está avaliando a inclusão de medicamentos como o abemaciclibe como parte da cobertura obrigatória dos planos de saúde. Cerca de 25% da população brasileira possui acesso a convênios. Diante disso, ter esses remédios disponíveis pelo plano é crucial para elevar as chances de sucesso contra a doença. Como parte do processo de avaliação da inclusão, a ANS abriu uma consulta pública até 21 de novembro que oferece a oportunidade de toda a sociedade opinar sobre o parecer preliminar da agência de incluir ou não essas terapias no rol de cobertura obrigatória dos convênios estabelecido pelo órgão.
No caso do abemaciclibe, a agência recomendou preliminarmente a inclusão de apenas uma indicação do produto a ser reembolsada pelos planos. Os usos em monoterapia e em combinação com um inibidor da aromatase como terapia endócrina inicial tiveram respostas iniciais negativas da agência. Por isso a participação nas consultas públicas é importante. Eis uma grande oportunidade para que toda a sociedade possa fazer sua voz ser ouvida e ajudar na inclusão de medicamentos de última geração para o tratamento do câncer de mama metastático.
* Antonio Buzaid é oncologista e diretor médico do Centro de Oncologia da BP – Beneficência Portuguesa de São Paulo, além de membro do comitê gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein