Cuidados bucais em tempos de coronavírus | Veja Saúde

Escovar os dentes e usar fio dental são as formas mais eficientes de evitar as doenças da boca, como cárie e problemas de gengiva, sendo os enxaguatórios bucais possíveis coadjuvantes no controle e prevenção desses males. Mas os enxaguantes antissépticos chegaram a se destacar durante a pandemia porque surgiram teorias de que eles poderiam eliminar o novo coronavírus da saliva. Atenção: nenhum desses produtos foi testado — em pesquisas clínicas reconhecidas pela ciência — especificamente para essa finalidade.

A discussão acerca do uso dos enxaguantes como forma de prevenção do coronavírus começou com a publicação da opinião de um grupo de profissionais chineses, logo no início da pandemia. O documento apontou que um bochecho pré-procedimento odontológico com peróxido de hidrogênio a 1% seria capaz de diminuir a carga viral da saliva. Posteriormente, a mídia divulgou que, na Universidade de Cardiff, no Reino Unido, havia “sinais promissores” de que os bochechos com enxaguatórios com 0,07% de CPC (cloreto de cetilpiridínio) também poderiam destruir o vírus. Nenhuma dessas notícias ou publicações foi corroborada por um estudo científico. Mas, mesmo que fosse possível remover parte da carga viral, a saliva seria recontaminada rapidamente por novas partículas do Sars-CoV-2.

A ideia de ter um produto ao alcance do público para ajudar a combater o novo coronavírus fez com que surgissem tentativas de introduzir no mercado algumas novas formulações de enxaguante. Acontece que elas foram barradas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), certamente porque não conseguiram comprovar a alegada atividade “antiviral”. Infelizmente, a disseminação desse tipo de informação pode levar a uma falsa sensação de segurança.

Mas a pandemia afetou a odontologia de muitas outras formas. Os habituais cuidados de biossegurança foram reforçados nos consultórios e clínicas, com a esterilização de todos os instrumentais, a desinfecção de superfícies e utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs).

Dentro de casa, a preocupação com os pacientes de Covid-19 se refere principalmente aos cuidados com as escovas de dentes e o compartilhamento do tubo de creme dental. A recomendação geral é que as escovas sejam trocadas a cada três meses ou quando as cerdas se deformarem. Até o momento, não há embasamento científico de que as cerdas podem reter o coronavírus e que manter a mesma escova em uso levaria a casos de reinfecção. Portanto, a troca não é obrigatória.

Por outro lado, é importante manter a escova do paciente separada da do resto da família, preferencialmente dentro de um estojo próprio para isso. No caso do creme dental, por precaução, é melhor que ele seja de uso individual, já que quase sempre a escova encosta no tubo e pode haver contaminação.

*Karem López Ortega, cirurgiã-dentista, membro do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) e professora da Faculdade de Odontologia da USP

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