Ansiedade, depressão e autoflagelo em pets: como distinguir e buscar ajuda | Veja Saúde
Cerca de 40% dos animais de estimação que atendo apresentam algum quadro de ansiedade ou depressão. Muitos chegam à autoflagelação. Esse índice teve seu ápice no início da pandemia, quando os pets vivenciaram o medo e a angústia dos donos, como se fossem verdadeiras esponjas de emoção.
Agora, é como se estivéssemos assistindo tudo de novo, pelo menos pelos olhos de nossos fiéis companheiros que, sem entender nada, começam a sentir as coisas mudarem. Só que, desta vez, no sentido contrário.
Donos voltando ao trabalho presencial uma, duas, três vezes por semana… Retomada de escolas, viagens, encontros… Daí vem uma segunda onda de quadros de ansiedade e depressão entre os bichos.
Mudanças bruscas de comportamentos, e até agressividade com os próprios donos, têm sido cada vez mais relatadas pelos tutores ao chegarem a creches e serviços de day care, hotel e adestramento, como o nosso. O fato é que saúde mental não é uma questão exclusiva para os humanos.
Segundo estudo realizado com 14 mil cães pela Universalidade de Helsinque, na Finlândia, o número dos que sofrem com transtorno de ansiedade têm aumentado de maneira considerável. Sinais que até pouco tempo eram vistos como “atitudes para chamar atenção” começam a ser percebidos como pedidos de socorro.
Além do desafio de entender nas entrelinhas o que está por detrás desses comportamentos, os donos de pets têm mais uma prova pela frente: saber diferenciar a ansiedade do quadro depressivo e do autoflagelo.
Enquanto na ansiedade as queixas estão mais relacionadas à desobediência, à agitação ou à agressividade do animal, na depressão os sintomas tendem a ser mais complexos e a englobar perda de apetite, apatia, prostração, pouca afetividade, sono excessivo… Pode até acontecer de o pet se esconder do próprio dono.
O autoflagelo, por sua vez, é um transtorno emocional que pode ser causado pela ansiedade. Envolve comportamentos de autodestruição, como se morder ou se lamber a ponto de causar feridas e machucados. Fazer as necessidades fora do lugar costuma acompanhar o quadro.
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Caso desconfie que seu pet esteja nessas condições, o recomendado é buscar ajuda profissional. Veterinários e especialistas em etologia e zoopsiquiatria podem avaliar a situação e propor mudanças e terapias pelo bem-estar do bicho.
Isso passa pelo enriquecimento do ambiente em que o pet vive, trazendo atividades que despertem seus sentidos e melhorem seus aspectos cognitivos e mentais.
No contexto que atravessamos, precisamos preparar o terreno para o animal no momento de retomada das agendas presenciais. E isso se faz com cautela, cuidado e empatia.
Algumas dicas valiosas: reviva os mesmos rituais de antes, com o objetivo de treiná-lo emocionalmente para essa separação. Antes do retorno definitivo ao escritório, tente fazer um horário de trabalho como se estivesse no presencial. Escolha um cômodo para o home-office, com a porta fechada, sem comunicação visual e sem acesso ao pet.
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Não faça da hora da chegada uma festa. Isso contribui para o aumento da ansiedade no animal. E, no dia que você viajar ou resolver chegar mais tarde, previamente ofereça atividades para o seu amigo e deixe brinquedos espalhados pela casa. Se possível, veja se algum amigo ou parente pode visitá-lo na hora do almoço.
O mais importante na convivência é que não adianta só estar por perto. É essencial oferecer tempo de qualidade ao pet, estar conectado realmente com ele, brincando ou fazendo carinho.
Lembre-se: animal não é objeto e não está na sua casa para servir alguém. É preciso saber lidar e conversar com ele com paciência, planejamento e amor. Somos responsáveis por aqueles que cativamos – não é isso? Então devemos zelar pelo seu equilíbrio e bem-estar.
* Cleber Santos é especialista em comportamento animal e CEO da Comport Pet, que integra os serviços de Day Care, Hotel e Adestramento e inaugurou recentemente a Universidade Comport Pet