“Você vai vencer como eu estou vencendo”: o que é a esclerose múltipla | Veja Saúde
“Encontro de esclerosadas!”. Foi assim, com sua habitual espirituosidade, que a atriz Guta Stresser, de 49 anos, resumiu seu encontro bem-humorado com a comediante Claudia Rodrigues, de 52, em Curitiba (PR). As duas planejam montar um espetáculo sobre esclerose múltipla, doença neurológica que atinge no mundo todo cerca de 2,5 milhões de pessoas, 70% delas mulheres. “Lutando pela nossa saúde e por inclusão. Lutando pelo direito à alegria e a tratamentos dignos, justos e adequados”, postou a atriz no Instagram, em 15 de agosto de 2022. “O tabu não acrescenta em nada à nossa luta. Vamos juntes derrubar preconceitos. Salve o Agosto Laranja!”.
O neurologista Jefferson Becker, presidente do Comitê Brasileiro de Tratamento e Pesquisa em Esclerose Múltipla (BCTRIMS), define a esclerose múltipla como uma doença autoimune – ou seja, o sistema de defesa do organismo ataca a si mesmo. Outras características: inflamação em alguma parte do sistema nervoso central e degeneração dos neurônios. “Há fatores que, aliados à predisposição genética, podem desencadear a doença. Que fatores são esses? Infecção pelo vírus Epstein-Barr, deficiência de vitamina D ou pouca exposição ao sol, tabagismo e obesidade na infância e adolescência”, explica o médico.
Famosa por interpretar a Bebel no seriado A Grande Família, da TV Globo, Guta descobriu que sofria de esclerose múltipla em janeiro de 2021 depois de se submeter a uma ressonância magnética. Mas, por medo de ser dispensada de alguns trabalhos, contou a notícia apenas para a família e o companheiro, o músico André Paixão.
“Perdi o chão. Nem sabia o que era aquilo, só que afetava o cérebro, e isso me soou aterrorizante”, revelou à revista VEJA, de 18 de junho de 2022. A esclerose múltipla pode ser dividida em remitente-recorrente, que engloba 80% dos casos e é caracterizada por surtos esporádicos, e progressiva, que atinge os 20% restantes e, como o próprio nome já diz, é marcada pela piora contínua da doença. “Nunca desista. Tenha fé. Acredite”, encorajou Claudia. “Você vai vencer como eu estou vencendo”.
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Guta Stresser começou a desconfiar de que algo não ia bem em 2020, quando participou do quadro Dança dos Famosos, do programa Domingão do Faustão. Nos ensaios, tinha dificuldade para memorizar suas coreografias. Em casa, passou a sentir fraqueza nas pernas. Tanto que, certo dia, chegou a sofrer uma queda.
A atriz queixou-se também de cansaço, tontura e zumbido. Mas os sintomas da esclerose múltipla vão além: visão borrada, perda de equilíbrio, sensação de formigamento… “Se esses e outros sintomas durarem mais de 24 horas, principalmente em jovens entre 20 e 40 anos, eles precisam ser investigados”, orienta Becker. “Nesse caso, os exames mais indicados são a ressonância magnética ou a punção lombar com análise do líquor. O ideal é começar a tratar a doença nos primeiros dois anos desde o surgimento dos sintomas”.
Fora de seu núcleo familiar, a primeira pessoa para quem Guta Stresser contou que estava com esclerose múltipla foi a atriz Ana Beatriz Nogueira, de 54 anos. Diagnosticada em 2009, Ana Beatriz procurou tranquilizar a colega: a doença não tem cura, mas tem tratamento.
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“Muitas doenças não têm cura. Diabetes, hipertensão e esclerose múltipla são algumas. Mas, das doenças neurológicas, a esclerose múltipla é a que mais tem tratamento disponível”, continua Becker. “Há três grupos de tratamento: para os surtos, para eventuais sequelas, como rigidez e formigamento, e para prevenir a evolução da doença. Felizmente, boa parte deles está disponível tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) quanto pelos convênios”.
Guta Stresser já começou o seu tratamento, que controla as crises. “Hoje, pratico ioga, mudei a alimentação para melhor e faço todo tipo de exercício para o cérebro — de leitura de livros a palavras cruzadas”, relata a atriz.
Claudia Rodrigues recebeu o diagnóstico para esclerose múltipla em 2000. Estava em cartaz com o espetáculo Os Monólogos da Vagina quando, no meio de uma apresentação em São Paulo, sentiu o braço dormente. Diagnosticada, continuou trabalhando normalmente. Interpretou, entre outros tipos cômicos, a Marinete, do seriado A Diarista, e a Ofélia, do humorístico Zorra Total.
Em 2015, submeteu-se a um transplante de células-tronco extraídas de seu próprio corpo. O objetivo do tratamento é, guardadas as devidas proporções, dar um reset no sistema imunológico do paciente para ele parar de atacar o organismo. De cada quatro transplantados, um tende a melhorar, dois permanecem estáveis e outro apresenta piora. Ao longo desses 22 anos, Claudia Rodrigues precisou ser hospitalizada algumas vezes. A mais recente foi no início do mês, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, quando passou por uma bateria de exames.
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Quem também se submeteu a um transplante de células-tronco foi a atriz norte-americana Selma Blair, de 50 anos. Em outubro de 2018, ela anunciou para os seus seguidores que estava com esclerose múltipla e, três anos depois, protagonizou o documentário Selma Blair — A Batalha Contra a Esclerose Múltipla (Introducing, Selma Blair, no original), que acompanha sua luta contra a doença.
Entre outras cenas, a atriz aparece raspando os cabelos, caminhando com dificuldade e sofrendo com dores, náuseas e vômitos. “Meu lado esquerdo está sem direção, como um GPS quebrado. Não sei exatamente o que vou fazer, mas farei o meu melhor”, relatou a atriz no documentário. Recentemente, Guta Stresser se submeteu a uma nova ressonância magnética. O resultado foi animador: as lesões no cérebro, conta, estão estáveis, sem qualquer sinal de evolução. Em setembro, a atriz completa 50 anos. Motivos para comemorar, ela é a primeira a admitir, não faltam.