Doenças cardíacas em mulheres são confundidas com problemas psicológicos | Veja Saúde

Um dos sinais mais conhecidos do infarto é a dor no peito que irradia para os braços. No entanto, entre as mulheres, nem sempre é isso que denuncia um ataque cardíaco. Muitas vezes, elas relatam cansaço, respiração curta, falta de ar e enjoo.

“A cada 100 mulheres entre 25 e 40 anos, 42 não apresentam dor no peito como sintoma de infarto, e o médico dispensa a paciente”, conta Salete Nacif, cardiologista do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo.

No pronto-socorro, as queixas delas tendem a ser confundidas com questões psicológicas (mesmo quando há o tal desconforto no peito). Outro motivo para isso é o fato de que as mulheres são mais suscetíveis a apresentar ansiedade e depressão, algo que acaba sendo supervalorizado nos atendimentos.

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Especialistas concordam que não é simples diferenciar um ataque de ansiedade ou pânico de uma questão cardíaca, mas alguns exames rápidos ajudam a descartar um infarto iminente.

“Para diagnosticar uma questão emocional, o médico precisa de tempo com o paciente, o que é inviável nas salas de emergência. Na dúvida, então, é melhor descartar o problema cardíaco com um eletrocardiograma ou exame de sangue”, pontua a médica.

Mulheres também infartam

Para complicar ainda mais a história, existe a crença de que infarto é problema de homem. As próprias mulheres caem na cilada de pensar assim.

“Há cerca de 50 anos, havia uma mulher para cada nove homens que sofriam infarto. Hoje, esse número é praticamente igual”, ressalta a cardiologista. E, ao contrário do que se imagina, muitas vítimas são jovens, com idades entre 40 a 60 anos.

Daí, quando os sintomas aparecem, elas próprias não cogitam uma pane no coração. Afinal, não se enxergam como grupo de risco.

“As doenças cardíacas matam mais as mulheres do que a união de todos os cânceres ginecológicos reunidos”, relata Salete. A pandemia do coronavírus não ajudou, já que afastou todo mundo dos consultórios e exames de rotina.

Vale ressaltar que a doença cardiovascular é a principal causa de morte no mundo, segundo relatório americano.

O que coloca o coração delas em risco

Lá pelos anos 1980, as mulheres entraram para o mercado de trabalho e acumularam essa função com as que já tinham em casa, resultando em mais estresse. Essa é uma das causas por trás de problemas cardíacos no sexo feminino.

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Além disso, segundo o Posicionamento sobre a Saúde Cardiovascular nas Mulheres – 2022, o curso de vida delas é permeado por experiências de violência, perda e medo, o que aumenta a vulnerabilidade psicológica.

E o diagnóstico de ansiedade e depressão aumenta em duas vezes o risco de doença isquêmica do coração ou doença arterial coronariana, quando as artérias entopem e adoecem.

Outras particularidades do sexo feminino, como diabetes gestacional, menopausa precoce e síndrome do ovário policístico, também contribuem para os males cardíacos. 

Questões clássicas, a exemplo de colesterol elevado, hipertensão e obesidade, juntam-se ao combo que deixa o coração das mulheres na corda bamba.

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O que fazer para mudar esse cenário?

Em primeiro lugar, é crucial manter um estilo de vida saudável, capaz de reduzir diversos fatores de risco associados a problemas cardíacos. Falamos de manter uma alimentação equilibrada, praticar exercícios, não fumar, buscar atividades que ajudem a aliviar a mente, etc.

Mais um ponto fundamental é ser acompanhada por um cardiologista.

“A partir dos 40 anos, é necessário fazer mais visitas a esse especialista. Quem está no grupo de risco por outras doenças ou tem histórico familiar de doença cardíaca deve fazer exames anualmente”, recomenda a médica do HCor.

Segundo Salete, os médicos também devem suspeitar mais de doenças cardíacas quando a mulher procurar ajuda.

Um fator que pode contribuir para isso é a maior participação delas em pesquisas científicas.

Um relatório da Sociedade Brasileira de Cardiologia aponta que o gênero feminino representava apenas 38% de todos os indivíduos que fizeram parte de estudos relacionados ao coração realizados entre 1965 e 1998. E essa realidade ainda não mudou.

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