Hipermobilidade das articulações é normal ou sinal de problema? | Veja Saúde
Denominamos hipermobilidade articular quando você consegue movimentar suas articulações mais do que a maioria das pessoas, sem dor e sem uma doença associada, tal qual um contorcionista.
Isso é possível devido a um aumento de flexibilidade associado à frouxidão ligamentar e articular.
Em torno de 10% a 30% das pessoas têm uma ou mais articulações com hipermobilidade, sendo que essa característica é mais frequentemente observada em crianças e mulheres.
E se houver dor?
Quando a hipermobilidade vem acompanhada de dor, denominamos de síndrome de hipermobilidade.
A causa do desconforto não é totalmente conhecida, mas pode estar relacionada a fatores como instabilidade articular, entorses, lesões articulares, dor muscular e prejuízos na propriocepção (que é a capacidade do corpo de sentir sua localização e seus movimentos).
É importante destacar ainda que existem algumas doenças genéticas raras que podem vir acompanhadas de frouxidão ligamentar, a exemplo da síndrome de Ehlers-Danlos, síndrome Marfan e osteogênese imperfeita.
Nesses casos, a hipermobilidade é um dos sintomas, podendo-se observar também hiperelasticidade da pele, luxação do cristalino, perda auditiva ou fraturas ósseas frequentes, entre outros indícios.
Como identificar a hipermobilidade
Dá para avaliar se há aumento da flexibilidade nas articulações ao focar especialmente nas mãos, nos cotovelos, nos joelhos e na coluna lombar.
Por exemplo: você consegue colocar as palmas das mãos no chão com os joelhos completamente estendidos? E encostar o polegar na superfície flexora do antebraço como na figura acima? Consegue estender os dedos das mãos, braço e joelhos mais do que as outras pessoas?
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O diagnóstico é simples e pode ser realizado pelo médico por meio de perguntas e exame físico.
Na maioria das vezes não é necessário fazer exames complementares para confirmar o diagnóstico.
A hipermobilidade pode afetar outros órgãos?
Essa condição não afeta outros órgãos além das articulações e dos ligamentos.
Crianças podem ter um grau de hipotonia muscular (isto é, uma diminuição do tônus muscular), estando associado à maior flexibilidade.
Porém, estudos têm demonstrado uma frequência maior de osteoartrite, fibromialgia e ansiedade em pessoas com hipermobilidade ou síndrome da hipermobilidade.
É uma condição genética?
A hipermobilidade é geralmente observada em mais de um membro da família, em graus variados.
Existem genes associados à produção ou modulação de colágeno e que parecem estar associados à hipermobilidade. Porém, ainda não há resultados conclusivos, e são necessários mais estudos.
Nos casos das doenças genéticas que cursam com hipermobilidade, os genes associados já foram identificados.
Quais as orientações para quem tem hipermobilidade?
A hipermobilidade não tem cura, é uma característica da pessoa.
Quando não provoca sintomas, não tem indicação de tratamento medicamentoso específico.
Exercícios físicos são fundamentais para manter um estilo de vida saudável e podem ser realizados por quem tem hipermobilidade, desde que não causem dor.
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Se houver dor, deve-se procurar um médico para avaliação e realizar as atividades físicas com orientação de um fisioterapeuta e/ou educador físico.
Em geral, exercícios de baixo impacto são mais indicadas, como natação, andar de bicicleta e praticar pilates.
O objetivo é obter um fortalecimento muscular e reduzir lesões decorrentes da hipermobilidade.
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O médico pode ainda indicar o melhor tratamento medicamentoso de acordo com a intensidade do incômodo e características do paciente.
Dá para recorrer, por exemplo, a analgésicos e/ou anti-inflamatórios, entre outros.
Órteses podem ser utilizadas para proteção articular durante as atividades físicas.
Na presença de pé cavo – quando o arco faz uma curva exagerada –, situação frequentemente encontrada em pessoas com hipermobilidade, o uso de palmilhas é indicado e auxilia no alívio de dores.
* Simone Appenzeller é reumatologista, membro da Sociedade Paulista de Reumatologia e Professora Titular de Reumatologia na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas